segunda-feira, 22 de outubro de 2007

o silêncio no escuro.




ouço silêncio no escuro da noite
ouço meu coração bater,
ouço a terra girar,
nenhuma palavra sua.

ouço silêncio no escuro da rua
ouço os passos e os ruídos
estavam ali antes dos passos
estavam ali como lembrança,
somente.

ouço as palavras do silêncio,
o não-dito que se magoa
os ditos que se arrependem

ouço silêncio
o não dito se solidifica
os ditos não pedem parto


ouço a morte deitado no quarto
sussurrando silêncios a ouvidos alheios
sem capa preta nem foice, sem matéria,
sem nada.


ouço vocês.
suas agonias perversas
seus pesadelos,

ouço-os pedindo aquilo que desejam
ouço-os fazendo aquilo que não gostam

ouço-os em silêncio
ouço a morte
ouço o silêncio no escuro do mundo.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

noite de saberes perdidos


antigamente eu acreditava que podia esconder a dor, que não ligava para a data de aniversário, que não gostava de ser bajulado, que fugia de todos e queria viver minha solidão. antigamente, fingia ser eu e eu.
gozado pensar que alguém sozinho pode parecer forte sobre essas máscaras. aos olhos alheios, pareço ainda hoje, agora que luto para abdicar delas. não fazia isso por gostar de me esconder, mas por nunca ter entendido muita coisa.
compartimentos
armários,
sapatos, meias chinelos,
comida, shampoo, caneta,
amor, carinho, paixão.
compartimentos
segmentações.
retirei a máscara a algum tempo e ainda não consigo ver um reflexo meu no espelho.
desfragmentação. organização, controle.
venho prestando atenção às minhas mudanças, às minhas manobras. camaleão, camuflagem. cama.
ainda me resta uma máscara azul.